lagartixa corre

Deixo ouvir o som e o silêncio que vêm da boca das coisas. Deixo ouvir o cochicho do bicho do rabo que espicha e gritou minha avó que deve ser uma lagartixa. Deixei de ouvir que era pra matar a bicha: “pega a pá e joga lá, joga longe pra não voltar! mas chega pra lá que a vó não quer checar se pegou a bicha do rabo espichado”, só disse pra tomar cuidado pra ela não pular nem voltar correndo pro quarto andar. Pega a panela, melhor!, pega a vasilha vazia! mas a danada é fugidia e emplaca uma correria. Pega a danada, se não, mato à vassourada, dizia minha avó na voz assustada e gritava e eu não pegava por nada essa escabreada. Peguei a branquela na panela velha, já que a vasilha vazia vazava e a bichinha passava pelo buraco. Peguei a panela, pus logo em cima dela, apertei a tampa e parti pro mato. Apressada, já lá do outro lado, como quem diz “muito obrigada”, piscou pra mim a lagartixa do rabo esticado.

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