Coração borrado

Minha caneta falhou. entupiu. estourou
A carta que para ti escrevia borrou, borrou tudo
Borrão desgramado, me fez esquecer os motivos por trás de toda raiva
Borrão nojento, me escapou o rancor
Ai ai, suspiro profundo.
Ai ai, saudade danada.
Aperto de abraço seu braço do lado
Aperto de abraço sem braço do lado
Presença abusada de ficar sem ter ninguém
Presença descarada, espectro de alguém
Peito doído, ressentido, amuado

Empacado na estrada, sentei pra pensar
Visão turva em caminho danoso
Me acanho, mas viro, me volto, me entorto

Numa carta de despedida, o borrão manchou.

Espectro de um amor

Me diga que à minha espera te encontrarei. Que naquele banco repleto de folhas de um outono qualquer estará você, que naquela primavera cheia de flores, no mesmo banco estará você, que não importa o quão cálido, o quão quente esteja o cimento daquele assento no verão, nem o quão álgido ele se faça. Só me diga que você estará lá. E eu te direi que diante de todas as folhas secas que hão de cair, de todas as flores que desabrocharem, de todo ardor de um cimento quente e de todo frio que possa fazer, eu estarei do seu lado, abrindo meu peito para sua proteção, abrindo meu corpo para te segurar e mantendo meus olhos presentes e abertos, pra vigiar todas esquinas suspeitas de quererem te levar.